Se os colaboradores da sua equipa olhassem para a sua liderança como se olha para um espetáculo de teatro, como acha que a classificariam? Uma comédia? Uma tragicomédia? Um espetáculo conceptual, de reflexão, subjetivo? Uma tragédia?
Damos um conselho: Não peça aos seus colaboradores para tentarem este tipo de classificação. No entanto, é importante que faça um exercício de introspeção, no sentido de perceber de que forma está a desempenhar os vários papéis do líder na construção da sua liderança espetacular.
O mundo das artes tem mais a ensinar ao mundo corporativo do que imaginamos. Os elementos da história são os mesmos. Tal como numa peça de teatro, no storytelling empresarial temos personagens (protagonistas, antagonistas, personagens principais e figurantes). Temos obstáculos que precisam de ser superados. Temos mudanças constantes e inesperadas. Temos um objetivo a alcançar e um prazo para o fazer. E um caminho que os protagonistas têm de perseguir, usando os recursos como podem, para alcançar esse objetivo. Cada colaborador da equipa tem um papel a desempenhar nesta história. E todos os papéis têm de ser relevantes para atingir o objetivo.
Os líderes têm também o seu papel. No entanto, fazendo um paralelismo com o teatro, a complexidade e a multiplicidade de papéis que o líder tem de desempenhar torna esta personagem tão interessante, quanto complexa. O líder desempenha simultaneamente três papéis: o de encenador, o de produtor e o de ator. E aqui reside a essência da dificuldade do trabalho do líder – ele tem de compreender muito bem quando está a desempenhar cada um dos papéis, de forma a que estes são se atropelem, pois para o sucesso do espetáculo, todos eles são essenciais.
O líder é um encenador da sua equipa. Enquanto encenador, ele tem de ter uma clara visão do tipo de espetáculo que quer apresentar e qual a pertinência desse espetáculo, porque é que o apresenta e com que objetivo. Enquanto encenador, o líder tem de ser capaz de explicar o propósito do seu espetáculo à equipa, escolher os melhores atores para desempenhar determinados papéis, explicar aos atores secundários e aos figurantes qual o seu contributo para o espetáculo final e fazê-los perceber que sem eles não há espetáculo. Ser encenador é muitas vezes ser também imune à crítica e ser capaz de superar observações menos positivas ainda durante o processo de trabalho. Ser encenador implica também escutar a equipa, explicar a cada um o seu papel e deixar que os seus atores construam as suas personagens, apresentem propostas, investiguem, se sintam responsáveis por criar dentro do papel que lhes foi atribuído. Como encenador, o líder tem uma visão do espetáculo (já o viu na sua cabeça), partilha essa visão e agrega a equipa em torno dessa ideia de espetáculo, motivando-a para o atingir.
O líder é também produtor. Enquanto o encenador tem uma responsabilidade perante a estética e o resultado do espetáculo; o produtor tem a responsabilidade de rentabilizar o espetáculo, e em que este agrade a quem financia o espetáculo: o público. O produtor está centrado nos resultados para os stakeholders. Se o espetáculo não tiver resultados, não haverá novos espetáculos. Ser produtor implica foco, respeito pelos procedimentos, garantir que tudo o que é planeado, é cumprido, que os orçamentos são respeitados e que o espetáculo está pronto nos prazos previstos. Ser produtor implica também que a equipa tem os recursos necessários para atingir o objetivo. Enquanto produtor, o líder tem a missão de atingir o objetivo e ajudar a equipa a fazê-lo, tomando as medidas que sejam necessárias e que estejam ao seu alcance.
O líder é ator. É um ator com diferentes papéis, dependendo da cena que vai desempenhar. Numas cenas será o protagonista, noutras o antagonista e em muitas será figurante (está lá, tem um papel importante, mas não é ele que tem de brilhar naquele momento). Ser ator implica um conhecimento profundo do seu papel, do seu objetivo, da sua função na cena, das motivações da sua personagem e das motivações das outras personagens com quem contracena. Implica autoconhecimento, implica escuta, implica conhecer também o papel dos outros e saber quando é o seu momento de entrar em cena. Implica improvisar e dar segurança aos outros para que o façam quando é necessário. Um bom ator é generoso e partilha o palco com os outros, não roubando a cena aos colegas. O líder ator, deve ser ainda mais generoso. Não só não a rouba, como faz o que pode para enaltecer o papel do outro. Perde enquanto ator ou ganha enquanto encenador, produtor e ator? Enquanto ator, o líder tem de atuar dentro dos valores do grupo, para que o grupo reconheça o padrão e o incorpore na sua atuação como um todo.
A liderança espetacular é aquela em que o líder se sente bem em todos os papéis que desempenha. É a liderança autêntica que se foca no resultado global, e ajuda cada um a encontrar o seu papel na equipa. E quando isso acontece, é espetacular.