Em 2003 comecei a escrever para teatro, por brincadeira, pelo desafio de experimentar uma escrita diferente, com uma peça sobre o trabalho “Emprateleirados”, que acabou por receber um prémio. E esse prémio deu-me ânimo para continuar a escrever. Passaram-se 22 anos. 22 anos em que estive a trabalhar em formação, sem nunca parar de escrever. Durante os primeiros dez anos escrevi para mim e para a gaveta. Mas nunca parei de escrever, mesmo quando não tinha respostas das companhias para quem enviava os textos. Não tinha respostas, mas tinha confiança de que tinha algo para dizer através do teatro.

Hoje, porque acredito que o teatro tem muito mais para dar do que o tanto que já dá, vejo no teatro aplicado às organizações uma nova missão: a de ajudar a desenvolver as pessoas através da arte, da diversão, do desafio constante ao pensamento e às convenções, através das emoções. Acredito verdadeiramente no poder transformador da arte e na capacidade que esta tem de efetuar mudanças mais profundas e duradouras… nas possibilidades que abre numa altura em que se querem pessoas pensantes, criativas, críticas e sem medo de errar. Vejo isso nos vários espetáculos da Didaskalia, e no impacto que 20 minutos de espetáculo tem, ao caricaturar situações, pondo os colaboradores como espetadores das suas próprias ações. Vejo isso ainda mais na formação e no impacto que uma abordagem mais experiencial, com atores, criadores, músicos, tem junto de um grupo de formação. Vejo ainda muito mais. Vejo o impacto de uma série de coisas que não implementámos ainda, mas cujos resultados vão ser (como dizemos na Didaskalia – espetaculares). E tal como há uns anos tinha a certeza de que era importante continuar a escrever teatro, porque um dia, iria conseguir… agora também tenho essa certeza: o teatro tem o poder de nos emocionar, divertir, ensinar. Acima de tudo, faz-nos pensar… e afinal, é disto mesmo que as organizações tanto precisam.

Que o teatro nos faça pensar.

Sandra Pinheiro